Serpenteava um sinuoso troço de cascalho flanqueado por densa vegetação e serra.
Pelo caminho inquiri as criaturas nativas acerca da fóz do seu destino.
Para meu malogro o idioma dos bichos era-me incompreensível.
Sons angulares e gesticulações frenéticas conjugavam-se numa teatral represenção de códigos absurdos.
Em breve, perdido sob um céu escurecido, acendiam-se as primeiras centelhas de estrelas.
Então, ali, junto a um milenar monolito contemplei o firmamento.
Desenhado pelos astros, destacava-se lá no alto um papagaio, um papagaio igual aos engenhos de pau e papel que anarquicamente delineavam movimentos sem nexo nas praias da minha infância, mas a brisa que se fazia sentir neste momento não desmobilizava o objecto.
Mais tarde revelou-se-me que de facto as estrelas, dada a sua distância,
estariam imunes aos caprichos do vento. Com maior rigor observei que o complexo astral em questão mais não era que coração do pastor Orionte, deitando por terra aquela minha visão.
A dada altura, depois deste devaneio e iluminado pelo luar, tornara-me também eu bicho deste extenso domínio.
Deixara de me preocupar com qualquer paradeiro , encontrara a paz.
Aqui as águas frescas embriagam e a poesia é eterna. Nada me falta.
Celebrei esta libertação aos úivos.
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