Serpenteava um sinuoso troço de cascalho flanqueado por densa vegetação e serra.
Pelo caminho inquiri as criaturas nativas acerca da fóz do seu destino.
Para meu malogro o idioma dos bichos era-me incompreensível.
Sons angulares e gesticulações frenéticas conjugavam-se numa teatral represenção de códigos absurdos.
Em breve, perdido sob um céu escurecido, acendiam-se as primeiras centelhas de estrelas.
Então, ali, junto a um milenar monolito contemplei o firmamento.
Desenhado pelos astros, destacava-se lá no alto um papagaio, um papagaio igual aos engenhos de pau e papel que anarquicamente delineavam movimentos sem nexo nas praias da minha infância, mas a brisa que se fazia sentir neste momento não desmobilizava o objecto.
Mais tarde revelou-se-me que de facto as estrelas, dada a sua distância,
estariam imunes aos caprichos do vento. Com maior rigor observei que o complexo astral em questão mais não era que coração do pastor Orionte, deitando por terra aquela minha visão.
A dada altura, depois deste devaneio e iluminado pelo luar, tornara-me também eu bicho deste extenso domínio.
Deixara de me preocupar com qualquer paradeiro , encontrara a paz.
Aqui as águas frescas embriagam e a poesia é eterna. Nada me falta.
Celebrei esta libertação aos úivos.
Sunday, December 23, 2007
Friday, October 19, 2007
Até mais ver (Village Vanguard, live)
Até mais ver...
Até mais ver, sonâmbulo das vinte e quatro horas
Até mais ver, insolente embriagado. Rum e parcos cêntimos na algibeira
Até mais ver, iluminado pela intermitência de neons, neons que ferem a vista; azuis e rosas fluorescem numa promíscua e subliminar referência ao vício - deslumbrados pelo acolhimento voltámos a ser crianças
Até mais ver, envolvido pelo novoeiro da vila
Até mais ver...
Até mais ver, passador de sonhos ilícitos. Do outro lado da rua, são putas e são chulos e são toda uma fauna a transpirar líbido a saldo
Até mais ver, viajante solitário e gatos com cio
Até mais ver, no trilho de passeios mal iluminado
Até mais ver, e o último eléctrico passa
Até mais ver, e uma bagatela por uma sopa nocturna
Até mais ver, eu fico por esta pensão
Até mais ver, príncipe da zaragata e uma cicatriz no sobreolho
Até mais ver, discípulo de Parker, Monk e Coltrane, e todos os outros mais, subversores da confortavel rotina. Biséis oxidados, caldos de conteúdo nutrituvo duvidoso e bop endiabrado - ferramentas de uma nova doutrina
Até mais ver, e um cadáver a boiar no canal
Até mais ver, no ano de mil e nove centos e oitenta mil. Até lá, salda a tua dívida
Até mais ver, e siluetas nos telhados miram siluetas noutros telhados que miram outras siluetas anónimas, ali, na esquina do pub que está fechado
Até mais ver, vómito, urina e escarro ornamentam um fresco de graffitis no portal daquela unidade fabríl
Até mais ver...
Até mais ver, na insónia, na ingestão descontrolada de fármacos, e a tv ligada num canal em fim de emissão
Até mais ver, no álcool e nos dedos amarelecidos pelos cigarros consumidos uns atrás dos outros, na enxaqueca e no amaldiçoar da má fortuna, na solidão e na amargura das palavras
Até mais ver, no caír da noite, no recolher da cidade, no despertar dos ratos
Até mais ver...até mais ver.
Até mais ver, sonâmbulo das vinte e quatro horas
Até mais ver, insolente embriagado. Rum e parcos cêntimos na algibeira
Até mais ver, iluminado pela intermitência de neons, neons que ferem a vista; azuis e rosas fluorescem numa promíscua e subliminar referência ao vício - deslumbrados pelo acolhimento voltámos a ser crianças
Até mais ver, envolvido pelo novoeiro da vila
Até mais ver...
Até mais ver, passador de sonhos ilícitos. Do outro lado da rua, são putas e são chulos e são toda uma fauna a transpirar líbido a saldo
Até mais ver, viajante solitário e gatos com cio
Até mais ver, no trilho de passeios mal iluminado
Até mais ver, e o último eléctrico passa
Até mais ver, e uma bagatela por uma sopa nocturna
Até mais ver, eu fico por esta pensão
Até mais ver, príncipe da zaragata e uma cicatriz no sobreolho
Até mais ver, discípulo de Parker, Monk e Coltrane, e todos os outros mais, subversores da confortavel rotina. Biséis oxidados, caldos de conteúdo nutrituvo duvidoso e bop endiabrado - ferramentas de uma nova doutrina
Até mais ver, e um cadáver a boiar no canal
Até mais ver, no ano de mil e nove centos e oitenta mil. Até lá, salda a tua dívida
Até mais ver, e siluetas nos telhados miram siluetas noutros telhados que miram outras siluetas anónimas, ali, na esquina do pub que está fechado
Até mais ver, vómito, urina e escarro ornamentam um fresco de graffitis no portal daquela unidade fabríl
Até mais ver...
Até mais ver, na insónia, na ingestão descontrolada de fármacos, e a tv ligada num canal em fim de emissão
Até mais ver, no álcool e nos dedos amarelecidos pelos cigarros consumidos uns atrás dos outros, na enxaqueca e no amaldiçoar da má fortuna, na solidão e na amargura das palavras
Até mais ver, no caír da noite, no recolher da cidade, no despertar dos ratos
Até mais ver...até mais ver.
Saturday, June 16, 2007
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