Tuesday, August 26, 2008

Sunday, April 6, 2008

Um pardal e o tempo

O passarinho, num planar desenvolto desenhou duas elegantes piruetas. Em simultâneo, no chão, mas num plano bidimensional, semelhante desenho se afigurou por intervenção dessa abstração chamada sombra. Todavia o traçado, aéreo e terreno, no imediato se desintegrara. Apenas a memória, confidente da acção, recorda tamanha beleza. E nada mais tenho na algibeira para provar tão extraordinário fenómeno.

O presente é passado, o futuro é agora.

Anónimo



Saturday, February 23, 2008

O homem, a obra




Desalinhas?

Sei, por razões que muito devem às leis da probabilidade, o clicar oportuno do "enter" da inevitabilidade e cuja via da "rede" para aqui te encaminha, que o dobrar desta sineta, este apelo em código binário, te levará a encarar com seriedade uma ida ao desalinho.

Assim sendo, e numa data a descombinar, proponho-te ir-mos ao mar recitar panfletos DADA, transformá-los em barcos de papel e um soldadinho de chumbo em cada um, embriagar a frota com combustível, lançá-la à água, e diluidos num ímpeto de piromania, incendiá-la. Ao mesmo tempo, com ou sem lira, invocando a memória de um outro Nero, cantar-se-iam os idiomas de Ball e Tzara. E isto, estaria criado o primeiro acto de uma poética violação às convenções internacionais marítimas pró-ambientais deste cínico ocidente. Para além do mais considero que ao Atlântico se reserve um regresso aos míticos naufrágios.



Longa vida às trincheiras da arte.



Anónimo

Wednesday, February 13, 2008

Aqui jaz Anónimo
um homem que dormiu demais
Não merecia isto.

Sunday, February 3, 2008

hi5 ou "Viva a monarquia!"


Numérica

Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze, quatorze, quinze, dezaseis, dezasete, dezoito, dezanove, vinte, vinte e um, vinte e dois, vinte e três, vinte e quatro, vinte e cinco, vinte e seis, vinte e sete, vinte e oito, vinte e nove, trinta, trinta e um, trinta e dois, trinta e três, trinta e quatro, trinta e cinco, trinta e seis, trinta e sete, trinta e oito, trinta e nove, quarenta, quarenta e um, quarenta e dois, quarenta e três, quarenta e quatro, quarenta e cinco, quarenta e seis, quarenta e sete, quarenta e oito, quarenta e nove, cinquenta, cinquenta e um, cinquenta e dois, cinquenta e três, cinquenta e quatro, cinquenta e cinco, cinquenta e seis, cinquenta e sete, cinquenta e oito, cinquenta e nove, secenta, secenta e um, secenta e dois, secenta e três, secenta e quatro, secenta e cinco, secenta e seis, secenta e sete, secenta e oito, secenta e nove, setenta, setenta e um, setenta e dois, setenta e três, setenta e quatro, setenta e cinco, setenta e seis, setenta e sete, setenta e oito, setenta e nove, oitenta, oitenta e um, oitenta e dois, oitenta e três, oitenta e quatro, oitenta e cinco, oitenta e seis, oitenta e sete, oitenta e oito, oitenta e nove, noventa, noventa e um, noventa e dois, noventa e três, noventa e quatro, noventa e cinco, noventa e seis, noventa e sete, noventa e oito, noventa e nove.

Terapêutica

Uma garrafa de absinto para combater as ideias vagas.

Três dias de convalescência para substanciar a acção.

Contadas as maçãs e depreciada a criação,

outra garrafa de absinto para encarar o fracasso.


Anónimo

Saturday, January 26, 2008

Ceci n´est pas une appropriation. Suivez la comète qui passe... (2)


Sweet Smoke - Just a poke (1970)

O ventríloquo

Certo dia, não consigo precisar a hora ou o local, nem tão pouco a origem ou o destino daquela caminhada, uma caminhada envolvedora por certo duma missão provavelmente a mim incumbida mas da qual não retenho qualquer pormenor, lembro-me sim do pesado cajado que penosamente carregava mas cujo conteúdo me era de todo desconhecido, o que também me parece não ser relevante para o episódio que aqui relato...mas certo dia, dizia eu, seguia uma longa recta de estrada. Era uma estrada de lajes soldadas a trevos e outras ervas rasteiras que, diga-se, muito abundavam dado serem raras as peregrinações locais. As bermas, também elas cobertas de um fresco verde estavam ornamentadas com abetos ordeiramente plantados e que se prolongavam num traçado paralelo até se juntarem naquele infinito chamado horizonte. A dada altura, envolvido pelo canto dos melros e dos rouxinóis, avisto um marco miliário e no qual se encontrava sentado um arlequim, ao seu colo uma bizarra marioneta. A personagem entregava-se a um interessante exercício ventríloquo. O discurso circunscrevia-se a um satírico monólogo. O domínio da arte era tal que em momento algum vislumbrara o mínimo movimento no rosto do rufião. Tinha sim um olhar vago, vidrado, adornado por uma máscara, o que me dificultava qualquer tipo leitura. O pequeno boneco sim, exprimia-se com gestos e voz que dir-se-ia alimentada de hélio, tudo isto recitado num cómico discurso. Toda a sincronia de palavras e movimentos que abençoava a marioneta eram tão só energia, vontade e saber administrado pelo arlequim, pelo menos assim se mo afigurava, e o resultado apresentava uma forma nova, genuína, pura. O monte de trapos era extensão do organismo do saltimbanco, era dificil estabelecer uma fronteira que delimitasse o indivíduo do objecto. Encarei este exercício invulgar como um lúdico passatempo para quebrar a monotonia do campo, para matar o tempo. Assisti deliciado a esta pequena performance teatral. Fora por breves instantes a sua plateia, único membro, diga-se, a não ser que os répteis e insectos que muito abundavam naquele solo ou os pássaros presentes nas ramadas fossem capazes de codificar aquela expressão artística em irracional prazer. E fora uma boa meia hora entregue a cantares de maldizer, a pensamentos populares, ideias revolucionárias, a adágios absurdos, a uma poesia absolutamente nova. Mas entardecia e tivera que seguir o meu rumo, despedi-me do arlequim inclinando a cabeça, e curiosamente a retribuição viera da marioneta. O Arlequim continuara imóvel como uma estátua, inexpressivo como um moribundo, nem um milimétrico contrair de músculo - impressionante. Fizera-me à estrada, meditei acerca daquele surreal momento, e no meio da dissertação ocorrera-me que talvez o boneco tivesse consumido a última réstia de humanidade daquele colorido senhor, tornando-o assim num fantoche sisudo condenado a guardião daquela estrada, ou então, um ganhara autonomia oral profissionalizando-se na arte da oração, enquanto o outro eclipsara-se num penoso e sombrio silêncio restando-lhe a ingrata tarefa de carregar o anão e assim ofertar-lhe o conforto necessário para lançar as farpas aos que por ali passam e não passam . Lá segui a passo a ainda extensa marcha a percorrer. Restava-me agora saber, de onde vinha para onde me dirigia e o que transportava comigo....

Anónimo

Friday, January 4, 2008